“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio(...)”

11 junho 2010

A theorem in symplectic geometry




Ilustração de Anatoly Fomenko, intitulada "A theorem in symplectic geometry"

09 abril 2010

o sonho do sonhar


Ilustração - YUKO SHIMIZU


I
Fecho os olhos e adormeço. Adormeço e sonho. Sonho e quase que enlouqueço!

Que raio de sonhos são estes, que eu sonho? O sonho é algo assustadoramente estranho!
Estranho a estranheza de estranhar os sonhos.

Sei bem o que sou e o que quero.
Não é nenhuma contradição este meu estado de sonho.
Não me permito sequer sentir essa inquietude que o sonho me provoca.
Sonho, acordo e desligo.

II
Sonho? Que sonho? Já me esqueci do que sonhei. Sei apenas que envolvia pessoas minhas e não minhas, que misturava alguns dos ingredientes da minha vida, que não tinha pés nem cabeça, que era agradável mas bastante irreal. Sei também que não o contarei nunca a ninguém, sou egoísta demais para ter sequer alguém a quem o possa contar.

III
Gosto de pensar que em sonhos sou todas as personagens que ao mesmo tempo gostaria de ser, não exactamente ao mesmo tempo no sentido do tempo exacto, mas aquela que quero ser hoje, aquela que me irá apetecer ser amanhã, ou ainda aquela outra que irá despertar em mim depois de amanhã e por aí fora... acho que se compreende, não é assim tão complicado. Nós somos uma pessoa, temos compromissos para com a vida dos quais só nos desligamos quando estamos a sonhar. É tudo inconsciente, é esse o segredo. Somos muitos num só. Como se esse estado de inconsciência fosse a desconstrução de um puzzle que teimamos em ir completando de dia para dia à medida que passam os dias que fazem parte daquilo a que chamamos a nossa vida.

Por mais peças que apareçam para encaixar, tudo se resume depois à desconstrução. As peças todas encostadas umas às outras mas sem encaixarem, a baterem com as pontas umas nas outras num frenesim a ver quem consegue primeiro alcançar o seu objectivo que é desconstruir o caminho da peça ao lado. No fim de contas todas lutam no mesmo sentido, pensam essencialmente nas que estão ao lado e não em si próprias, a pensar que estão a defender o seu eu quando afinal estão a fazer o contrário. Que raio de desconstrução que vai para aqui!

IV
O que é engraçado é que tudo não passa de um ensaio. Um ensaio para tentar perceber porque tenho sonhos repetidos de tempos em tempos, porque sonho tanto com coisas nas quais raramente penso. Por exemplo, aquela casa com que sonho cheia de divisões, de onde vem essa casa? É sempre a mesma e é o cenário de diferentes histórias. Estou agora a lembra-me do sonho com os elevadores, eu sinceramente acho que tenho mesmo muito medo de andar de elevador e depois invento que vou antes pelas escadas porque quero fazer exercício... Estava eu a dizer, o sonho do elevador, sonho com um prédio com trezentos e tal andares e como tenho medo do elevador começo a subir as escadas, começo a baralhar os andares, já não sei onde é a minha casa que afinal é apenas um quarto mas com cozinha e tudo, e que às vezes passa a ser um hotel, depois desisto e tento apanhar o elevador para conseguir marcar o andar para onde quero ir, mal entro no elevador este começa a subir, a subir, a subir e nunca mais pára parece que se desintegra... essa parte já não sei bem como é pois o sonho acaba quando já estou muito aflita. Quando tenho este sonho que aparece de vez em quando, depois de o ter, quando acordo, penso sempre no filme “e viveram felizes para sempre” que também tem um elevador a subir pelos céus num sonho de uma mulher e no sonho dela aparece o johnny depp, a mim é que nunca me apareceu tal coisinha, pelo menos que eu me lembre... dito assim parece brejeiro e até injusto... mas é engraçado lembrar-me agora deste filme, tem tudo a ver com o que às vezes sinto.


4 de Fevereiro de 2009

04 janeiro 2010

o desespero



Ilustração - James Jean

Olhas para ela como se a conhecesses de outros caminhos, caminhos esses que recusas recordar, ou porque não precisas deles e dela para nada do que agora és, ou simplesmente porque é assim que agora te apetece sentir e na altura em que esses aconteceram não eras afinal ninguém, nem para ti nem para ela...

E afinal é tudo imaginação dela, que sente que alguém a persegue e que o que em tempos foi dito não pode agora ser falado. Acabou-se a constrição! Gostas dela desde sempre e não há nada que a destrua dentro de ti! Vais senti-la. Viverás a tua vida para sempre com ela, para sempre com ela... menina pequenina, difícil de encontrar e de por ela lutar! Fala o que tens a falar.

Quem pensa que nascemos livres? Livres não nascemos, está já tudo desenhado para nos enredar na dita sociedade, padrões e mais padrões, que se lixem os padrões! Quero ser livre, quero ser livre para sempre! Não quero ter sentimentos forçados, quero ser egoísta ao máximo, não me preocupar com este ou com aquele só porque tem de ser, quero-me preocupar com aquilo que quiser e quando eu o quiser!

A liberdade é uma menina pequenina com asas para voar. De que lhe serve o nome se não o conseguir expressar? De que lhe servem as asas se delas não desfrutar? Às vezes parece que está tudo virado de pernas para o ar, mas no fim de contas só tens de rodar a cabeça e olhar para as coisas tal como elas são, tal como sabes que elas são! Mas são tantas as vezes em que não tens coragem, aparentemente falta-te a coragem. Mas afinal, quem és tu quando ages assim?